À tarde, tarde.
Mais tarde farei as coisas que sempre tenho vontade de fazer. Mais tarde irei aproveitar os poucos momentos que já se foram tarde. Tarde não pela demora da chegada, sim pela demora da partida. Quem vive de espera, morre esperando o que tanto aguarda. Quem guarda em si sonhos, deixa de se testar. Quem não se testa não se prova. Não sabe o gosto de cada conquista. Vive achando que, em seu mundo, tudo pode. Mal sabendo que poder, sem fazer, não é nada. É um conjunto, uma estrutura. Não adianta apenas sonhar. É preciso força, para lutar. Testa, para encarar. E mais de uma tarde, para conseguir.

(Luiz Bringel
Convenhamos, eu não presto.
Sabem que não presto, nem para mau exemplo. Exemplificando minha situação falida e sem expectativa alguma de reconstrução, sinto-me satisfeito de ser da pior forma que sou. Pois sou ruim visivelmente, para os olhos de quem me conhece, visivelmente. Não tenho a pretensão de ocupar espaços, e nem de agradar desagradáveis. Apenas tento reforçar o que, sem força alguma, está exposto: Meu péssimo caráter. Agora percebam a falta tremenda que fazem em minha vida por deixarem de influenciá-la. Fico até surpreendido comigo mesmo... ‘Vocês’ já virou pouca coisa. ‘Nós’ sabemos que eu não presto.

(Luiz Bringel
A vantagem de existir por existir, é inútil. A desvantagem de existir por existir, é humana. Perfeita, cheia de erros.

(Luiz Bringel
Que não seja você.
Se estiver pensando em deixar-se influência pelo momento, desista de ter um sentimento completamente seu. Ele, o sentimento, também será de momento; e passará depois de certas desistências, suas ou alheias. Irá se perder pelo caminho, e você ficará com cada vez menos do que esperava momentaneamente. Não se importe tanto assim, logo, não se influencie, e caso alguém tiver que desistir... que não seja você.

(Luiz Bringel
Meus queridos olhos negros.

Dentro dos olhos negros que me encaravam no espelho, eu me via. Olhava-me, deslumbrava-me com a feição que adquiria com o tempo. Aquilo me estimulava a fazer coisas mais interessantes. Não que as anteriores não fossem, mas eu queria sempre uma superação. Quando me toquei de tudo que já tinha feito, para adquirir certas coisas, espantei-me; esperava mais de mim mesmo. Mesmo sabendo que poderia fazer mais, e não fiz, confirmei o que ainda posso fazer. Não tenho a certeza se irei adquirir o que quero, tentando; mas tenho a convicção de que não alcançarei se não buscar.

(Luiz Bringel
Eu estava lá, rindo, sorrindo, desconstruindo a pequena perfeição; que se tornava insignificante a cada segundo. Realmente, quero defeitos. Assim, sinto-me mais... entrosado.


(Luiz Bringel
Eu, até agora.

Joguei meu nome ao vento, só para parar onde ele me levava. Deixei-me seguir, sem rumo certo; incertamente mais estável a cada novo tempo, que se passava freneticamente. Deu a vontade de sorrir. Digo, rir, de tudo aquilo antes, que realmente ficou no anterior. O que posso esperar para o futuro moldável, sem ser palpável é muito mais do que imaginava; é tamanha felicidade na mais falta de certeza. Mais incertos, e inseguros, os momentos me faziam crescer interiormente. Garanto que se fosse o mesmo pacato que sempre fui não seria realmente o que sou hoje; tão pouco alcançaria o que pretendo. Mas, mesmo assim, não sei o que quero. Isso é tudo, até agora.


(Luiz Bringel

Futuro Livro

CAPÍTULO QUATRO - Sob o Solo
(...)

O sol poente já avermelhava o céu, fazendo com que os animais mais desprovidos começassem a se esconder. Era possível escutar o som do vento cortando o pasto vazio e amplo. Algumas árvores perdidas e secas influenciavam a paisagem deserta, dando um ar de triste local. Tudo era mais frio do que o comum, e poucos se arriscavam a caminhar pelas redondezas daquele lugar.
Era uma ilha ao norte, que poucos sabiam a sua localização, e menos ainda de sua existência. A extensão de terra era bem mais elevada do que o nível marítimo; as águas salgadas, agitadas e perigosas, batiam em suas paredes e em suas pedras, dificultando a chegada de supostos visitantes.
No topo da ilha havia plantas gigantescas e espinhosas cercando a borda terrestre e dando uma proteção natural. Algumas árvores circulavam o pasto deserto de plantas secas, dando uma possível subvida aos animais que nasciam.
(...)
Dando a volta na mesa, o homem foi aparecendo. Chegando mais perto, saindo das sombras, foi possível ver menos que sua silhueta. Grandes traços, em um corpo acima do peso, brilhando um vermelho vivo das vestes sujas de sangue. Aparentava ser alto, e seus olhos refletiam em amarelo opaco, sem vida.
- Se continuar assim, as vilas aqui perto irão notar mais rápido do que o esperado. As pessoas estão sumindo. – Sussurrou a garota cega, enquanto tossindo.
- Calma! - Sua voz pesada e fria ecoava pelo pequeno quarto. -  Estou quase concluindo, faltam alguns ajustes e acabarei os experimentos; tenho que ter pessoas para isso, caso contrário...
(...)

(Luiz Bringel
Eram perfeitos juntos, até surgir o amor. Os defeitos mostraram-se e só amar não sustentava mais. A perfeição ruiu em tristeza e dor... E então, o que faltava?

(Luiz Bringel
Singularidade.
Conheço indagações longínquas, de um tempo tão próximo quando o passado. Fazem-se presentes até o futuro, e me desfazem completamente. Cumplicidade com minha própria existência, eu busco complicar a simplicidade que não existe mais em mim, pois de tantos momentos, não consigo ser mais singular. Besteiras são encontradas em importâncias alheias, onde me fazem perceber que todos realmente temos e trememos diante de dúvidas. Qualquer estabilidade perece diante das incertezas, rui em desconfianças, e qualquer certeza eleva-se em momentos certos. Antes passos lentos e constantes, a velozes e desregulares. É necessário ter uma trajetória, e um planejamento para segui-la.

(Luiz Bringel